O governador Flávio Dino, em entrevista exclusiva
ao Jornal Pequeno, anunciou que fará cortes orçamentários, para que o Maranhão
possa fazer frente à crise econômica do país:
“O nosso empenho, o nosso esforço agora é exatamente
no que se refere ao custeio. Nós vamos ter que, em 2016, adotar medidas
restritivas em relação ao custeio; conter, por exemplo, a expansão de gastos
com servidores públicos, para com isso manter as finanças públicas em condições
razoáveis”, afirmou.
Falou também ao contrário de alguns políticos por
serem do seu partido o PCdoB que o governo não participará financiando campanhas
2016. “Todos aqueles que estiveram comigo na campanha serão respeitados”
“Em 2015, já economizamos mais de R$ 300 milhões
em regalias, gastos abusivos e imorais, e conseguimos fazer com que esse
dinheiro pudesse ser aplicado em programas sociais importantes, como o programa
Bolsa Escola – que vai em janeiro dar a famílias de baixa renda a possibilidade
de comprar material escolar para seus filhos, – e o programa Escola Digna, que
começa a substituir as escolas de taipa por novos prédios decentes e
adequados”.
Eis a íntegra da entrevista:
Jornal Pequeno – De que forma estão se
refletindo, no Maranhão, a crise econômica e a crise política do país?
Flávio Dino – A nossa observação
é exatamente esta: temos duas crises que estão diretamente embricadas. Uma
sobrevive em razão da outra. Em verdade, se nós olharmos os fundamentos
macroeconômicos do país, nós temos uma situação difícil, mas também não é
desesperadora.
Uma vez que a gente tem uma taxa de juros que
deve diminuir, porém esta taxa de juros hoje de 14% já foi 40%, já foi 25%,
precisa cortar, ainda mais. Porém é uma taxa que o País já sobreviveu a ela. A
desvalorização do real ajuda as exportações, portanto, ajuda também
investimentos estrangeiros diretos. Então, é também um dado positivo.
Nós temos 380 bilhões de dólares de reservas
internacionais no Brasil. Em suma, nós temos caminhos de recuperação da nossa
economia. Infelizmente, exatamente a segunda crise embricada à crise econômica,
que é a crise política, tem impedido os passos na direção correta para que esta
crise seja superada.
Então o que o horizonte oferece neste instante é
muita nebulosidade em razão da dimensão da crise política que hoje é alimentada
por um fator externo à política, que é a Operação Lava Jato. Enquanto não
houver uma equação política para restabelecer o diálogo entre os vários
partidos, e com isso restabelecer a governabilidade institucional, seja do
governo – Poder Executivo – seja do Congresso Nacional, vai ser difícil a gente
sair da crise econômica.
JP – As finanças públicas do Estado estão
equilibradas?
Flávio Dino – Nós, em 2015, tomamos todas as
medidas para evitar que o Maranhão sofresse, tanto que chegamos ao fim do ano
com a folha de remuneração dos servidores já com data fixada para pagamento, o
que hoje é quase uma exceção, em relação a vários Estados. Porém, estamos muito
preocupados com o ano de 2016.
JP – Pode haver mudança na previsão ou na
política de investimento?
Flávio Dino – Vamos continuar no caminho de
aplicar bem o pouco dinheiro disponível. Foi o que nós fizemos em 2015. As
economias que nós fizemos com gastos supérfluos, ou gastos ilegais, chegaram à
ordem de R$ 325 milhões, segundo dados da Secretaria de Transparência e
Controle.
Estes recursos que foram economizados é que nos
permitiram manter um nível de investimento, com recursos próprios, como por
exemplo o Programa Mais Asfalto, além evidentemente de cuidarmos da aplicação
de recursos do BNDES. Então estas são as vertentes de investimento para o ano
que vem. Nós vamos continuar a procurar cortar gastos que podem ser cortados,
para manter investimentos e obras com recursos próprios e do BNDES.
Nós vamos ter que, em 2016, adotar
medidas restritivas em relação ao custeio.
JP – Quais os maiores avanços do atual
governo?
Flávio Dino – Eu cito em primeiro lugar esta
forma transparente e honesta de governar. É uma conquista. Nós saímos de nota
zero, no ranking da CGU, para nota 10, no ranking da CGU. Isto significa dizer
que nós temos uma certificação que nos tirou do último lugar e nos colocou no
primeiro, numa governança honesta, proba.
O segundo aspecto que eu gostaria de destacar é o
foco em políticas sociais para os mais pobres. Isto abrange o Programa Mais
IDH, abrange o fato de hoje, neste momento que concedemos esta entrevista, as
primeiras 1.300 famílias do Programa de Sistemas Integrados de Tecnologias
Sociais (Sistecs) estarem recebendo a primeira parcela de R$ 1.200 de crédito
para investimento em alimentos. Isto abrange programas como o Bolsa Escola, que
vai ser pago agora no mês de janeiro, e outros tantos programas voltados à
promoção dos direitos dos mais pobres.
E o terceiro ponto que eu gostaria de destacar
são exatamente as obras. Nós temos hoje centenas de obras em andamento. Chegam
seguramente a 500 obras em andamento, entre o Programa Mais Asfalto, obras do
governo federal de reforma de escolas que estão, por exemplo, em andamento,
mais as obras do BNDES tem garantido inclusive que o nosso setor privado possa
manter um funcionamento que em muitos Estados não tem sido possível.
JP – Um eventual impeachment da
presidente Dilma Rousseff atrapalharia ou causaria algum tipo de embaraço ao
Governo do Maranhão?
Flávio Dino – Isto seria desastroso para o País,
em primeiro lugar, porque longe de resolver a crise institucional isto, se
ocorresse, iria aprofundá-la, na medida em que existem segmentos sociais
expressivos que não aceitariam um caminho inconstitucional.
Portanto, se teria uma luta social muito intensa
e nós teríamos um paradoxo. Porque se houvesse o impeachment da presidente
Dilma, logo em seguida deveria haver o impeachment do hipotético presidente
Michel Temer, porque os mesmos decretos que ela editou, que foram adjetivados
como “pedaladas fiscais”, o próprio vice-presidente, no exercício da
Presidência, também editou.
Então se ela houvesse, por hipótese, cometido
crime de responsabilidade, que não cometeu, por conta destes decretos, ele
também cometeu; então nós teríamos que ter um outro impeachment logo em
seguida.
JP – Haveria um retrocesso no Maranhão?
Flávio Dino – Nós experimentamos aqui, nos
governos Zé Reinaldo e Jackson Lago, o que significa governar o Estado de modo
independente, com o poder federal forte contra nós. E nós lutamos muito para
conseguir neutralizar isto. E se houvesse este hipotético impeachment nós
iríamos ter um cenário indesejado, porque exatamente nós voltaríamos, em certo
sentido, às políticas de boicote e de sabotagem que hoje não existem. Mas que
infelizmente, num retrospecto atinente aos governos Zé Reinaldo e Jackson,
fazem crer que aconteceriam. Por isso eu reafirmo a minha crença de que o
impeachment é inconstitucional e é nocivo aos interesses do País e do Maranhão.
JP – Como o seu governo vai lidar, do
ponto de vista político, com as eleições municipais de 2016?
Flávio Dino – O governo não vai participar das
eleições, porque a tarefa do governo é governar. Nós não teremos recursos
públicos financiando campanhas. Isto é inclusive uma revolução no Maranhão. Mas
o governador vai participar intensamente, porque tem compromissos assumidos em
2014, e este vai ser um parâmetro fundamental.
Todos aqueles que estiveram comigo na campanha
serão respeitados. E os compromissos que eu fiz em 2014 serão honrados. Então,
como governador, como militante político, estarei sim presente nas eleições
municipais, buscando em primeiro lugar unificar ao máximo o quanto possível o
nosso campo, os nossos partidos que fizeram com que eu estivesse aqui no
governo e, quando isto não for possível, buscando acordos de procedimentos
entre os vários partidos, a fim de permitir que nós mantenhamos esta unidade
estadual.
JP – E nos municípios onde não houver
esta possibilidade de acordo?
Flávio Dino – Em algumas situações, em que nada
disto for possível, aí a tendência é que eu guarde uma posição de neutralidade
como, por exemplo, o caso de São Luís, em que se desenha uma disputa polarizada
entre dois candidatos que participaram diretamente da minha campanha em 2014,
que é o prefeito Edivaldo Holanda Júnior e a deputada Eliziane Gama. Então,
neste caso, eu devo manter os acordos de 2014 e, por isso, manter uma posição
pessoalmente equidistante em relação a estes candidatos. Não obstante, o meu
partido, é claro, irá tomar uma posição partidária, mas não significa o meu
envolvimento pessoal.
JP – Estão sendo cogitadas mudanças na
composição de sua equipe de governo?
Flávio Dino – Estão sendo cogitadas, sim, e serão feitas. Porque a mudança é uma lei da vida. Nós sempre temos de estar nos adequando aos novos desafios. Nós temos neste momento um processo de debate em relação a alguns casos, envolvendo não só a figura do secretário, mas também as equipes. Porque eu considero que a atividade de governar é necessariamente coletiva. Então nós estamos debatendo simultaneamente. Alguns casos vão resultar em mudança de secretários e, em outros casos, vão resultar apenas em mudanças de equipes.
Flávio Dino – Estão sendo cogitadas, sim, e serão feitas. Porque a mudança é uma lei da vida. Nós sempre temos de estar nos adequando aos novos desafios. Nós temos neste momento um processo de debate em relação a alguns casos, envolvendo não só a figura do secretário, mas também as equipes. Porque eu considero que a atividade de governar é necessariamente coletiva. Então nós estamos debatendo simultaneamente. Alguns casos vão resultar em mudança de secretários e, em outros casos, vão resultar apenas em mudanças de equipes.
JP – Em resumo, que avaliação se pode
fazer deste seu primeiro ano de governo?
Flávio Dino – Que somos um governo honesto, um
governo dedicado, um governo corajoso, um governo que tem muito mais acertos do
que erros. Claro, evidentemente, não é um governo perfeito, porque a perfeição
não é um atributo humano, infelizmente. Então nós reconhecemos que há pontos em
que nós temos que evoluir mais, e eu estou lutando para que isto aconteça.
Mas é um governo aprovado pela sociedade. Eu
sempre me guio menos pela minha avaliação, e mais pela avaliação da sociedade.
Porque a minha costuma ser muito rigorosa comigo mesmo, porque eu sou
perfeccionista ao extremo.
Então eu tenho como parâmetro aquilo que as
pesquisas estão mostrando: que de um modo geral há um reconhecimento deste
nosso trabalho, tanto que agora mesmo recebi pesquisas de Pinheiro e de Vargem
Grande, e o nosso governo com aprovação superior a 60% quase 70%. São dados que
nos animam bastante.