Chegou
o dia da consciência negra! Em que
escolas e entidades trabalho o tema de várias formas, muitos esquecendo o
verdadeiro sentido da data que deve ser um Dia de reflexão, resistência e luta.
Reflexão porque ainda é polemico se falar em um dia dedicado a memória de Zumbi
dos Palmares, de um dia para a afirmação afro-brasileira, de igualdade racial
num país extremamente racista, que de tanto ser. Ignora a luta antirracista.
Luta por precisamos continuar a lutara pela igualdade de oportunidades, que só
chegam através das politicas afirmativas de promoção da igualdade. E resistência porque vivemos um momento de
iminente ameaças aos direitos das minorias e consequentemente da população
negra e pobre do nosso país é necessário união para resistir a um futuro
governo declaradamente racista e fascista que não aceita a conquista que ao
longo da história negros e negras vem tendo à duras penas.
A
três anos o 20 de novembro é feriado em Pindaré, graças à atividade do nosso
grupo de Negritude, que com o café literário neste dia, conseguiu apresentar o projeto
através do então vereador Edinho e câmara aprovou.
Vamos refletir, lutar
e resistir!
Faço esse adendo para
apresentar um artigo que vale a pena ser lido nesta data:
Como diz a atriz Tays Araújo, o DNCN representa uma
boa oportunidade para se pensar sobre o movimento negro e suas reivindicações.
Este é o entendimento de Tais Araújo, uma das principais artistas
afrodescendentes do Brasil.
“É um dia representativo e de reflexão, feito para
analisarmos quais são as nossas demandas e, também, para nos acolhermos”, disse
ela à Marie Claire. “Mas também para reafirmarmos nossos direitos como
cidadão e celebrar”.
E é assim, trabalhando e comemorando que Tais irá
passar data. Ela estará no palco ao lado de Lázaro Ramos atuando na peça “O
Topo da Montanha”, sobre os últimos momentos do pastor e defensor dos direitos
civis dos negros, Marin Luther King, antes de seu assassinato.
“A mensagem de Martin Luther King é muito forte. A
história se passa na década de 60, mas continua muito atual”, contou a atriz.
“A peça, ao mesmo tempo, comunica e entretém, ela é séria, emocionante, mas
também diverte. Esse é o maior mérito, conseguir falar de um assunto sério de
uma maneira engraçada”.
A encenação acontece durante a primeira edição do
evento Eu Tenho um Sonho, nos dia 19 e 20 de novembro no Tom Brasil, em São
Paulo. Idealizado por Taís e Lázaro em celebração ao sucesso da peça, que já
levou mais de 200 mil pessoas ao teatro, o evento contará também com show de
Criolo e stand up “Tia Má com a Língua Solta”, de Tia Má.
“A ideia do Eu Tenho um
Sonho é agregar. Queríamos trazer para perto artistas que comungam conosco”,
contou ela ao falar sobre Tia Má e Criolo. “Queríamos teatro, entretenimento
e música para podermos nos acolher e celebrar nossas conquistas”, finalizou. E.
Ninguém
nasce racista
O
racismo limita e impede o desenvolvimento de crianças e adolescentes.
Na última terça, 30, mais um caso de
racismo ganhou repercussão, quando uma mãe pintou o filho, uma criança
de nove anos como se fosse negra com marcas de chicotadas pelo corpo e colocou
correntes, fazendo referência à uma criança escrava, para festa Halloween de
uma escola particular. Ela postou orgulhosa: “Quando seu filho absorve o
personagem! Vamos abrasileirar esse negócio! #Escravo”.
Acontece que a história da escravidão do Brasil
não tem nada a ver com o clima festivo, e escravos não eram personagens para
serem absorvidos. A mulher orgulhosa, as pessoas que elogiaram e todos aqueles
que não veem nesta situação um grande problema, não compreendem que a história
da escravidão do país é um profundo estado de luto transformado em luta por
milhares de pessoas negras que foram sequestradas e trazidas em navios
negreiros de outras partes do mundo e aqui não apenas tiveram suas vidas
objetificadas, como foram suprimidos de qualquer forma de humanidade.
Os efeitos deste longo período são sentidos
diariamente: quando uma criança negra tem o cabelo crespo cortado à força,
quando PMs confundem o saco de pipoca com drogas na favela, quando uma criança
negra ouve que a escola não é o seu lugar”, quando uma mãe “fantasia” o filho
de escravo para a festa da escola, ou quando uma mãe recebe um bilhete para
cortar ou trançar os cabelos dos seus filhos negros.
A verdade é que precisamos falar sobre racismo e
ter consciência que ele não atinge apenas a população negra, mas sim todos
brasileiros no seu cotidiano e direitos, uma vez que não se trata apenas de
conceitos de natureza estritamente biológicos, mas também de relações sociais,
bem como a maneira que foram estruturadas as instituições e os sistemas no
Brasil, todos frutos da herança do sistema escravocrata.
O problema é que, embora de extrema relevância, o
racismo ainda não está sendo tratado como deveria, é ignorado por muitos no
Brasil, especialmente pelos tomadores de decisão. O tema ainda é cercado de
dúvidas, silenciamento e pouca visibilidade. Contudo, suas consequências são
cada vez fortes, limitando e impedindo o desenvolvimento de crianças e
adolescentes.
E afinal, por que pintar uma criança de negra e
fazer referências à escravidão é racista? Primeiramente, é importante destacar
que quando uma criança ou adolescente age de maneira equivocada e racista, esta
conduta é efeito da convivência com pessoas próximas, ou influências e atitudes
de pessoas públicas que tenham condutas racistas; afinal, como disse Nelson
Mandela, ninguém nasce racista.
Assim, no caso específico, ao pintar a criança
com a pele negra e assimilar à escravidão a mãe atingiu uma coletividade
indeterminada de indivíduos, praticando, induzindo e discriminando toda a integridade
de uma raça, cor e etnia, conforme estabelece a Lei 7.716 de 1989, uma vez que
se utilizou da imagem de sofrimento de um grupo como algo banal, origem de um
longo período de
genocídio em massa da população negra. Vale
lembrar que nunca houve qualquer retratação aos sobreviventes ou descentes.
Além de tocar numa ferida histórica no nosso país, a ação reforça o estereótipo
da população negra.
Portanto, são Inegáveis os impactos do racismo no
desenvolvimento humano, uma vez que crianças e adolescentes negros, como já
destacamos, frequentemente passam por situações que além de constrangedoras,
tiram suas vidas apenas pelo fato de serem negros. O racismo tira um pedaço da
infância das crianças negras.
Por fim, o Artigo 227 da Constituição de 1988
estabelece que os direitos de crianças e adolescentes têm prioridade absoluta,
e são de responsabilidade da família, do Estado e da sociedade. Nesse contexto,
ressalta-se que diariamente crianças e adolescentes negros são vítimas de
práticas racistas, e involuntariamente inspirados por adultos, praticam ações
racistas. A fim de reduzir essa realidade, apontamos a importância de ambientes
familiares, educacionais, instituições e relações saudáveis, sensíveis e
acolhedoras para o desenvolvimento humano e social saudável. O que é essencial
e urgente para que seja possível garantir, plena e equitativamente, o direito
de todas as crianças e todos os adolescentes do Brasil.
*Mayara Silva de Souza é advogada do
programa
Prioridade Absoluta, do Instituto Alana
Prioridade Absoluta, do Instituto Alana