Eleito com 63,52% dos votos válidos, o novo governador do Maranhão,
Flávio Dino, terá um desafio diário nos próximos quatro anos de governo:
os coronéis da mídia maranhense. Membro do Partido Comunista do Brasil,
o ex-juiz e ex-deputado federal estará sob a mira constante de seus
adversários, que dominam os principais veículos de comunicação do estado
e controlam a visibilidade dos atores políticos para a grande maioria
da população.
O analfabetismo de 18,55% dos maranhenses torna a TV e o rádio fontes
privilegiadas de informações cotidianas. Quatro das cinco afiliadas das
principais redes nacionais de televisão comercial pertencem a políticos
e servem de palanque permanente aos seus donos. Os jornais são, em sua
maior parte, centrados na capital e obedecem a uma dinâmica de apoio
circunstancial, atrelada aos aportes financeiros concedidos por quem
está no poder. A internet, grande parceira da campanha eleitoral de
Dino, ainda é uma realidade restrita a pouco mais de dois milhões de
maranhenses.
A partir DE 1º de janeiro, as ações de Dino serão “fiscalizadas”
pelos afiliados locais das TVs Globo, SBT e Band. A Rede Globo tem como
afiliada a TV Mirante, de propriedade da família Sarney, com cobertura
de 216 cidades, das 217 que formam o estado. Os Sarney são donos de 37
veículos de radiodifusão (emissoras de TV e rádios), localizados nas
principais cidades, e do jornal O Estado do Maranhão – diário de maior
circulação no estado. No outro lado da ponte José Sarney, divisória
entre a parte moderna e a parte antiga de São Luís, está localizada a
afiliada do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), cujo proprietário é o
senador Edison (“Edinho”) Lobão Filho (PMDB), o adversário de Dino nas
eleições estaduais. O Sistema Difusora detém 84 outorgas de radiodifusão
espalhadas nos mais profundos recantos maranhenses.
A TV Band é a rede de menor alcance, centrada em São Luís e em mais
15 municípios. Pertence ao deputado Manoel Ribeiro, aliado tradicional
dos Sarney, sobretudo no período em que presidiu a Assembleia
Legislativa, de 1993 a 2003 – nas duas primeiras gestões de Roseana
Sarney como governadora. No entanto, Dino terá a cobertura positiva da
Rede Record, que tem como afiliada a TV Cidade, da família do senador
eleito Roberto Rocha (PSB), presente em 34 municípios.
Iniciativas de transparência
O governador “comunista”, alcunha atribuída pelo marketing da
campanha de Edinho Lobão e reverberada como estratégia de ataque por
diversos veículos aliados aos Sarney, será o primeiro governador do
PCdoB eleito no país. Carregará consigo responsabilidades inerentes a
causas sociais, econômicas e políticas a serem empregadas na
transformação da realidade de um dos mais pobres estados da nação.
A estratégia de interiorização presente no período eleitoral, com as
visitas ao interior durante os chamados “Diálogos pelo Maranhão”, aponta
um caminho de regionalização da saúde, da educação e de valorização das
diferentes paisagens que formam o Maranhão.
Flávio Dino terá quatro anos para apagar as marcas visíveis do atraso
de uma oligarquia que durou cinco décadas no poder graças a articulação
nacional do seu principal líder, o senador pelo Amapá José Sarney.
Nestes cinquenta anos de política, Sarney investiu em um complexo
sistema de mídia, o Sistema Mirante, para a promoção pública dos seus
herdeirose do seu grupo nos pleitos eleitorais. Os sucessivos mandatos
dessa família e dos seus aliados apontam para a importância das mídias
no jogo político e para consolidação da opinião pública. Dino terá como
aliadas as iniciativas de transparência durante sua gestão para
reafirmar seu compromisso com o povo e refutar os possíveis (constantes)
ataques dos coronéis da mídia maranhense.
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Pâmela Araújo Pinto é jornalista e doutoranda em Comunicação
